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TORQUATO BASSI
Isolda Bassi Bruch
Foi um italiano que amava o Brasil. Nasceu em 1880, em Stienta, pequena cidade da província de Rovigo, Veneto, primeiro filho homem do casal Domenico e Catarina Bassi.
Os que o conheceram, ainda criança, diziam que era forte, muito levado, sempre alegre e que adorava desenhar. Não havia superfície lisa que ele respeitasse: calçadas, muros, mesas, papel velho e, se não dispunha de lápis, servia-se de carvão.
A família era muito religiosa. O pequeno Torquato tornou-se coroinha e nas procissões lá estava ele, carregando uma cruz. Um de seus primos era o organista na velha igreja da cidade, onde ele fora batizado.
Em 1893, Domenico, Catarina e cinco dos seus seis filhos emigraram para o Brasil, radicando-se em São Paulo. A filha mais velha, já casada, ficou na Itália. Em São Paulo e no Rio de Janeiro já se encontravam os irmãos de Domenico. Era uma família grande, unida e festeira.
Torquato logo matriculou-se no Liceu de Artes e Ofícios, onde estudou com Aladino Divani. Temperamento inquieto e curioso, viajava com freqüência pelo interior e litoral, sempre com os seus utensílios de trabalho.
Em 1898, aos 18 anos, casou-se com Eugenia Tessarini. Tiveram quatro filhos. Não demorou a comprar um terreno e construir uma espaçosa casa na Alameda Jaú, perto da Rua Augusta.
Sua primeira exposição individual, com 30 quadros, na maioria paisagens, aconteceu em 1907, na Casa Bevilacqua. No ano seguinte, recebeu a Medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas-Artes do Rio de Janeiro.
Em 1911, empenhou-se na organização da grande Exposição Brasileira de Belas-Artes, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo. Para este, até então, inédito evento, foi pessoalmente ao Rio de Janeiro, a fim de convidar os artistas expositores. Conseguiu um vagão de trem da Central do Brasil e nele transportou os esplêndidos quadros e esculturas dos mais afamados artistas do Rio de Janeiro. Esta exposição e a de 1912, também organizada por Bassi, foram as primeiras coletivas de artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Torquato, além da pintura, também era apaixonado por música, talvez por influência do pai, que tocava violino. Conhecia de cor o libreto de muitas óperas. Foi um dos primeiros a possuir um rádio, que lhe permitia ouvir transmissões de óperas e música clássica. Assistiu emocionado, em 1911, a inauguração do Teatro Municipal de São Paulo. Essa paixão deve estar no nome, pois foi o barítono Luigi Bassi, nascido em Pesaro, Itália, que criou, em 1887, aos 22 anos de idade, o papel de Don Giovanni de Mozart, sob a regência do compositor, em Praga.
Sonhava conhecer os grandes museus da Europa e aperfeiçoar-se. Já adquirira um nome como artista e era bem relacionado. Não foi difícil arranjar uma passagem de navio: dirigiu-se a Martinelli, representante de diversas companhias de navegação e pediu uma passagem para a França. Martinelli pegou um de seus cartões de visita e nele anotou: Vale por uma passagem de 1º classe para a França em qualquer um de nossos navios para o Sr. Torquato Bassi e acrescentou: Agora, Bassi, vá a Santos e espere por um navio das nossas frotas, mostre este cartão ao comandante e faça boa viagem. Como era italiano, não tinha possibilidade de obter uma bolsa de estudos, mas, com o fruto de seu trabalho, pôde deixar a família com o sustento garantido e partir para Paris, em 1913, lá ficando por quase dois anos.
Em Paris, teve a sorte de esbarrar na rua com um homem que vinha puxando uma enorme armação para fora de um prédio. Na xingação que se seguiu, ambos se revelaram italianos e pintores em busca de aperfeiçoamento em Paris. Spellani, o novo amigo, sustentava-se pintando cenários de teatro e convidou Bassi para trabalharem juntos. A parceria deu certo. Bassi matriculou-se na Academia Julian, como quase todos os nossos pintores que lá se encontravam. Estudou com Jean-Paul Laurens e freqüentou o ateliê de Harpignie.
Aproveitou sua estadia na Europa para conhecer também a Espanha e a Bélgica e, naturalmente, também excursionava pela França.
A guerra obrigou-o a voltar para o Brasil, em 1914. Pouco tempo depois faleceu sua mulher.
Incansável, prosseguiu trabalhando e expondo quase todos os anos, individualmente e em coletivas. Viajava pelo interior e litoral, trazendo inúmeros desenhos e manchinhas, como chamava as pequenas telas pintadas ao ar livre.
Casou-se novamente, em 1916, com Alvine Steingräber, alemã e tiveram uma filha, Isolda.
Em 1919, esteve em Porto Alegre e Pelotas expondo seus quadros, que foram todos vendidos. Lá não deixou somente suas pinturas, mas muitos amigos. Em 1922, viajou por seis meses pelo nordeste, com a mulher, expondo com muito sucesso em Recife e Fortaleza, o mesmo ocorrendo em Vitória, Rio de Janeiro, Santos, Campinas, Ribeirão Preto, Curitiba e muitas outras cidades brasileiras.
Em 1925, foi com a mulher e filha para a Europa, por seis meses. Nesta viagem, conheceram a Itália, dos Alpes até Nápoles. Foram recebidos pelo Papa Pio XI, em audiência particular. Bassi encantou-se com a terra natal. Fez muitos amigos, que queriam convencê-lo a ficar na Itália. Mas, por mais que os amigos e as belezas naturais e artísticas o atraíssem, ele amava o Brasil: queria pintar o pôr-do-sol, as praias, as paisagens brasileiras e, ficar longe do fascismo. Nunca mais saiu do Brasil.
Em 1928, criou o Grupo Almeida Jr., constituído por excelentes pintores e escultores cariocas e paulistas. Entre eles, Pedro Alexandrino, Henrique Bernardelli, Oscar Pereira da Silva, José Wasth Rodrigues, Túlio Mugnaini, Paulo do Valle Jr., Georgina de Albuquerque, Pedro Bruno, Helios Seelinger, Lucílio de Albuquerque, Edgar Parreiras, J. Timótheo da Costa, Antonio Rocco, Oswaldo Teixeira e o próprio T. Bassi.
Participou de quase todos os eventos realizados no Salão Paulista de Belas-Artes, recebeu muitos prêmios e foi o idealizador e um dos fundadores da Associação Paulista de Belas-Artes. Sempre trabalhando, lecionando e expondo.
Em 1947, sofreu um grave atropelamento: um carro dirigido por um motorista irresponsável causou-lhe um mal irreparável na coluna vertebral. Apesar de ser um homem saudável e forte, a sua parcial recuperação foi muito lenta. Voltou a andar, mas com dores e dificuldade. Sempre dependendo de ajuda, impedido de sair de casa sozinho e já com a vista fraca, passou a dedicar-se à escultura. Seu fiel amigo, o escultor Eugenio Prati, o visitava freqüentemente e ensinou-o a fazer a sustentação das peças em barro. O famoso artista prestou-lhe um inestimável bem: Bassi revelou-se como escultor. Suas encantadoras figuras obtiveram tanto sucesso quanto seus quadros.
Sua arte foi, durante anos, assunto para jornais e revistas de todo o país. Nestor Pestana escreveu sobre ele no O Estado de São Paulo, em 1901; Amadeu do Amaral, no Jornal do Commercio, de São Paulo; Leonardo Truda no Correio do Povo, de Porto Alegre; Monteiro Lobato na Revista do Brasil, do Rio de Janeiro, em 1920; Faria Neves Sobrinho no Diário de Pernambuco, em 1922.
Sob a coordenação e produção da Dra.Ruth Sprung Tarasantchi, foi organizada na sede do Centro Cultural de São Paulo, em 1988, uma exposição de 80 quadros e 12 esculturas de Torquato Bassi.
Foi uma personalidade fascinante, humana e alegre, muito generoso e responsável, um incansável trabalhador e ativo empreendedor, que muito contribuiu para a cultura nacional.
Em 1961, a Câmara Municipal de São Paulo concedeu-lhe o título de Cidadão Paulistano.
Torquato Bassi pintou e modelou até sua morte, em 7 de julho de 1967.
Cronologia
1880 - Fev.28 nasce em Stienta, província de Rovigo, Itália, filho de Domenico Bassi e Catarina Bassi 1895 Migra para o Brasil com os pais. Estabelecem-se em São Paulo, Capital. Estuda no Liceu de Arte e Ofícios com Aladino Divani. 1898 Casa-se com Eugenia Tessarini, italiana. 1907 - Dez Exposição na Casa Bevilacqua, Rua São Bento, São Paulo, 30 quadros. 1908 Medalha de Ouro no Salão de Belas-Artes, Rio de Janeiro, Exposição Nacional do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao Comércio Internacional. Dez: exposição de 37 telas, paisagens, na Casa Bevilacqua. 1909 - Dez Exposição na Casa Nardelli, Rua Direita, São Paulo, 32 quadros. 1911 - Set Exposição no Correio Paulistano. Organiza a Exposição Brasileira de Belas-Artes no Liceu de Artes e Ofícios. 1913 Exposição em Campinas, SP. Salão Nobre de Ciências, 40 telas. Viaja para Paris. Estuda na Academia Julian com J.P. Laurens. 1914 Volta para o Brasil. Ago: exposição na Rua 15 de Novembro, São Paulo, 59 telas. 1916 - Mar Exposição Casa di Franco, Rua São Bento, 34 paisagens. XXIII Exposição Geral da Escola Nacional de Belas-Artes medalha de bronze. Segundo casamento, com Alvine Steingräber, alemã. 1917 Exposição em Curitiba (PR). Leva quadros de vários artistas para cidades do interior de São Paulo, como Campinas e Ribeirão Preto, onde dirige a decoração em estilo Luiz XV do Salão Nobre do Palácio Rio Branco, o novo Paço Municipal. Ago: exposição em Santos, SP. 1918 - Mar Expõe com Oscar Pereira da Silva no São Paulo Club. 1919 - Mar Exposição na Rua Líbero Badaró. Jul: expõe em Porto Alegre e Pelotas (RS) e em Curitiba. Set: exposição na Papelaria Riachuelo, Rua São Bento. 1920 - Mar Exposição na sede do Circolo Italiano, Largo da Sé, São Paulo. 1921 - Jul Exposição na Casa Sotero, Rua Direita, São Paulo, 45 telas. 1922 Viaja, durante 6 meses, com a mulher, pelo Norte e Nordeste do país. Expõe em Fortaleza (CE), Recife (PE) e Vitória (ES). 1925 - Mar Exposição na Rua São Bento. Viaja para a Europa com a mulher e a filha Isolda. 1928 - Mar Organiza a Grupo Almeida Jr., constituído de excelentes pintores do Rio de Janeiro e São Paulo, que expõe seus trabalhos no Teatro Municipal de São Paulo. Maio: participa com 5 telas da Exposição Muse Italiche. 1929 - Jan Exposição Grupo Almeida Jr. no Palácio das Arcadas, São Paulo. 1934 Medalha de Ouro, Exposição 1º Feira de Amostras da Cidade de Santos. 1935 - Ago Exposição no Palácio das Arcadas. 1937 - Jul Expõe 72 telas no Palácio das Arcadas. Dez: exposição em seu ateliê, Al. Itu, 1611. 1938 - Jul Pequena Medalha de Prata, Salão Paulista de Belas-Artes. 1939 Grande Medalha de Prata, Salão Paulista de Belas-Artes. 1941 Exposição em Curitiba. 1942 Membro fundador da Associação Paulista de Belas-Artes. 1947 Participa do Sindicato dos Artistas Plásticos. 1960 Prêmio Álvares Penteado, Associação Paulista de Belas-Artes. 1961 - Out Título de Cidadão Paulistano. 1967 - Jul.7 Morre Torquato Bassi, aos 87 anos. 1988 Sob a coordenação e produção da Dra. Ruth Sprung Tarasantchi, foi organizada, na sede do Centro Cultural de São Paulo, uma exposição de 80 quadros e 12 esculturas como homenagem póstuma a Torquato Bassi.
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