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Poética da Urbanidade - Estudos interculturais
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Materiais para as discussões do Colóquio Internacional de Estudos Interculturais (2004)

 

Arquitetura non standardPARIS-SÃO PAULO NO PROGRAMA DE ESTUDOS INTERCULTURAIS "POÉTICA DA URBANIDADE" PELOS 450 ANOS DE SÃO PAULO

ARQUITETURA NON STANDARD
Paris, 19 a 21 de decembro de 2003

Súmula

 

Um dos aspectos de importância na análise urbanológica de grandes metrópoles reside no exame dos problemas resultantes da aplicação de soluções estandartizadas no crescimento urbano. Centros históricos de cidade ampliaram-se não apenas através de processos urbanos espontâneos ou semi-dirigidos, através da difusão construtiva ao longo de vias ou da conectação gradativa com processos de irradiação urbana a partir de aglomerações vicinais e pontos focais diversos. Malhas estandartizadas, em geral reticulares, foram sendo sobrepostas, adaptadas, integradas ou simplesmente anexadas a estruturas múltiplas de organização espacial. A aplicação de soluções estandartizadas na abertura de novos espaços urbanos não levou sempre em conta as pré-condições naturais da topografia, criando situações de difícil solução e de descaracterização ambiental. A articulação das diversas formações em xadrez da malha urbana, diferentemente orientadas, e a sua conexão com outras estruturas levaram a problemas viários e a uma organização espacial geral de alta complexidade. A racionalidade de soluções urbanas a nível de bairros contribuiu, a um nível mais alto, à constituição de um todo pouco racional. A aplicação de soluções estandartizadas de urbanização não é, assim, necessariamente expressão de uso racional das possibilidades humanas na organização do espaço. O processo diversificado de crescimento urbano através de loteamentos com base em soluções estandartizadas na atualidade amplia os problemas já existentes e gera outros para o futuro. Do ponto de vista sócio-cultural e antropológico, espaços urbanos estandartizados levantam questões de difícil solução, uma vez que pela sua pouca diferenciação pouco contribuem a processos identificatórios.

A reflexão teórica e a prática na arquitetura internacional da atualidade testemunham os esforços na procura de novos caminhos de superação de soluções estandartizadas na organização dos espaços. Pode-se dizer que se processa uma transformação profunda, fundamental, tanto no concernente à concepção quanto à realização arquitetônica. Já não se trata apenas do uso da informática por parte dos escritórios de arquitetura. Trata-se de uma revolução do processo criador e de produção gerada pela aplicação da tecnologia numérica em todas as fases do processo de concepção e de produção.

A exposição "Architecture non standard", realizada no Centre Pompidou, em Paris, apresentou um panorama amplo dessas tendências da atualidade. Responsável pela exposição foi o curador geral Frédéric Migayrou, Chefe de conservação dos serviços de arquitetura e design do Centro Pompidou. O curador comissário foi Zeynep Mennan, do Departamento de arquitetura da Universidade técnica de Ancara.

A Galeria Sul do Centro foi transformada em "espaço matemático". Nesse espaço e no Forum foram apresentados então projetos, realizados ou experimentais, assim como prototipos de doze escritórios internacionais de arquitetura: Asymptote (Hani Raschid & Lise Anne Couture, USA); dECOi Architects (Mark Goulthorpe, França, USA e Grã-Bretanha); DR_D (Dagmar Richter, USA, D); Greg Lynn FORM (Greg Lynn, USA); KOL/MAC Studio (Sulan Kolatan & William Mac Donald, USA); Kovac Architecture (Tom Kovac, Áustria); NOX (Lars Spuybroek, Países Baixos); Objectile (Bernard Cache & Patrick Beaucé, França); oosterhuis.nl (Kas Oosterhuis & Ilona Lenard, Países Baixos); R&Sie (François Roche & Stéphanie Lavaux, França); Servo (David Erdman, Marcelyn Gow, Ulrika Karlsson, Chris Perry, CH, SW e USA); UN Studio (Ben van Berkel & Caroline Bos, Países Baixos).

Não se tratou apenas de uma simples apresentação de arquitetos que aplicam novas tecnologias numéricas e virtuais em projetos. Um dos objetivos da exposição foi o de demonstrar as modificações que estão sendo atualmente acontecendo no terreno da industrialização da arquitetura. O emprêgo de sistemas algorítmicos leva a uma mudança profunda do instrumentário tradicional desde o início do processo criador até à consecução de prototipos e objetos experimentais. Além do mais, ocorre uma transformação profunda na própria noção de arquitetura e de urbanismo, assim como na das respectivas profissões. A arquitetura "non standard", na medida em que explora os elementos numéricos, utiliza-se de um novo vocabulário e de discursos provenientes de outros campos do saber.

Os fundamentos matemáticos das novas tendências se encontram por exemplo nos trabalhos de "non-standard analysis" de um Abraham Robinson (1961), uma vez que abriram os caminhos teóricos para a inteligência artificial, para as teorias fraturais e para a morfogenéticas. As tendências"non standard" se fundamentam matematicamente em todas as etapas do trabalho arquitetônico, do projeto à construção, sobretudo também quanto à topologia.

A superação da estandartização leva também a uma posicionamento crítico com relação a conceitos considerados como fundamentais à arquitetura moderna, onde predominam normas e modelos. Discute-se agora se a normatividade é ou não realmente o único e necessário critério para o alcance de melhores condições de vida, de comforto e de higiene. Esta não é, porém, uma oposição à Modernidade, uma vez que muitos arquitetos de renome do modernismo não apenas cultivaram um repertório cartesiano de "ângulos retos", mas usaram de formas helicoidais, de cascos e relevos. Não há dúvida, porém, que as tendências ao "non standard" favorecem a singularidade, a individualidade e o particular.

Com as novas concepções ocorre sobretudo superações de fronteiras entre o design, a produção e a distribuição, assim também quanto à ordem temporal dessas fases ou processos. Questionam-se noções racionalidade construtiva, de usos, a estandartização de dimensões de elementos e de tipos de edifícios e de funções.

Para a discussão de questões urbanísticas, é de especial relêvo o próprio espaço matemático da exposição. Esse espaço "non standard" foi gerado pela superposição de dois "grids", criando os doze espaços para as demonstrações das doze firmas. Assim, a própria exposição, em si, sugeriu uma perspectiva algorítmica do espaço.

A fundamentação matemática das novas tendências de organização espacial e a superação de critérios normativos do "standard" possibilitam novas aproximações entre a arquitetura, o urbanismo e a música. Do ponto de vista histórico-conceitual, cumpre lembrar a definição matemática da música no antigo sistema das disciplinas quadriviais. Uma reconsideração dessas concepções numéricas da música não necessita ater-se à história de concepções hoje históricas da matemática. Ela pode abrir as portas para novas reflexões teóricas, redefinições da noção de música e de criação musical.

Antonio Alexandre Bispo

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